quinta-feira, 17 de junho de 2010

OS PRESBÍTEROS NÃO SÃO POLICIAIS, MAS PASTORES



O assunto que quero tratar é um assunto pastoral e tem a ver com a disciplina na igreja. Especialmente com um aspecto da disciplina: a longanimidade da disciplina cristã. Essa longanimidade da disciplina cristã chama a atenção, se comparada com outras igrejas ou com o mundo em redor de nós.

Dois exemplos, que vem do mundo.

1. O Campo de Futebol.
Provavelmente não preciso explicar muito as regras de um jogo.
Existe um juiz no campo que pode disciplinar. Ele controla o jogo e admoesta os jogadores, se cometem infrações. Quem comete um erro recebe um cartão amarelo; se acontecer mais uma vez ele receberá o segundo cartão, que se transformará em um cartão vermelho. Quem recebe um cartão vermelho deve sair do campo: ele é excluído do jogo e depois disso o seu caso será avaliado e será decidido quantos jogos ele não poderá jogar.

2. Mais rigoroso ainda é o campo da cidade: as regras do trânsito.
Em frente da minha casa, eles acabaram de terminar uma pista nova, que mudou o movimento do trânsito. No mesmo dia que abriram a pista nova, dois guardas do Detran estavam posicionados para observar os motoristas. Eles estavam com um livrinho na mão para multar sem misericórdia os motoristas que cometessem um erro.
Muitos motoristas ficaram chateados e discutiram com os guardas pedindo misericórdia, mas eles foram duros e deram a multa. A discussão aconteceu no outro lado da parede e num certo momento ouvi um dos guardas dizer: Somos policiais e não pastores!

Isso me leva à pratica nas igrejas. Existe um grande contraste.

1. Existem igrejas que quase não conhecem uma prática de disciplina, como, por exemplo, a igreja de Roma. Uma pessoa, que cometeu um pecado pode visitar o padre para confessar o seu pecado, mas se não, o padre não o visitará para discipliná-la para que seja excomungado, se não se arrepender.

2. Existem outras igrejas rigorosas, como os as igrejas anabatistas e pentecostais, que conhecem uma disciplina rígida. Se um membro cometer um pecado, ele será logo excomungado, para que a igreja fique santa e sem mancha.

3. A prática das Igrejas Reformadas sempre era diferente das duas anteriores.
a. Em vez de ter um confessionário na igreja onde as pessoas podiam ir para confessar os seus pecados, as igrejas reformadas re-instituíram o ofício dos presbíteros, que deviam visitar todos os membros da igreja trimestralmente antes da celebração da Santa Ceia, para que a Santa Ceia não fosse profanada; (O domingo 30 do catecismo de Heidelberg (1563) é um bom exemplo disso). Então, o conselho não esperava até que os membros chegassem ao conselho, mas o conselho procurava os membros para admoestá-los, edificá-los e consolá-los. O contraste com a igreja de Roma é que as igrejas reformadas renovaram a prática de ter uma disciplina cristã;

b. Mas essa prática era diferente da prática das igrejas anabatistas, que criticaram as igrejas reformadas por ter uma disciplina fraca e mole. Elas deviam ser mais rígidas e ter uma disciplina rigorosa, porque têm que manter a igreja santa!

Essa crítica não é antiga, mas existe até hoje. Especialmente membros que vem de uma igreja pentecostal se assustam com a prática de disciplina, que trata os membros com muita longanimidade.

Em 2006 tivemos uma discussão na nossa igreja a respeito da nossa prática de disciplina. Durante dois anos tratamos um casal, que vivia como gato e cachorro. Um momento eles estavam brigando, outro momento eles se arrependeram quando foram admoestados; mas algumas semanas depois tudo acontecia de novo. Eles foram afastados da santa ceia e receberam regularmente visitas pastorais. Tratamos o caso com muita longanimidade, mas houve um membro que considerou isso como falta de disciplina. Os dois já deviam ser excomungados, para que a igreja ficasse santa e imaculada; Nós defendemos a posição que a disciplina cristã serve para levar o membro ao arrependimento, para que seja salvo por Cristo. Isso é o primeiro objetivo da disciplina cristã; a santidade (ou melhor: a pureza) da igreja está no segundo plano.

De fato nunca teremos uma igreja pura e santa aqui na terra; devemos lutar para manter a igreja santa, mas considerando Efésios 5, 27-29 a igreja só será santa e pura em Cristo Jesus, que a santifica e purifica, para apresentá-la a si mesmo na gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.
Assim será a igreja no dia final, na glória, mas aqui na terra nunca conseguiremos a pureza e perfeição da igreja;

Este texto foi um dos textos importantes nas discussões entre as igrejas reformadas e as igrejas anabatistas no século 16; Houve vários encontros entre ambas para discutir as diferenças teológicas. Uma dessas discussões aconteceu na cidade de Emden em 1578;

Foi naquela época e baseado naquelas discussões que as igrejas reformadas mudaram a prática da disciplina e introduziram a diferença entre 1) a excomunhão definitiva e 2) a excomunhão provisória ( quer dizer: afastar um membro, que caiu em pecado, da santa ceia; e depois continuar com o processo da disciplina até a excomunhão; dessa forma as igrejas reformadas criaram espaço e tempo para visitar e admoestar o membro, que caiu em pecado, para que se arrependa e se converta.

Esse assunto foi um ponto de discussão entre as igrejas reformadas e as anabatistas. (25 de Fevereiro até 17 de Maio 1578); Uma das teses era a seguinte: É necessário ter admoestações antes da excomunhão? Sim ou não? O representante dos anabatistas disse: “De acordo com Mateus 18 e Lucas 17 temos que perdoar repetidamente o irmão, que pecou contra nós, mas temos que excomungar logo aquele que pecou contra Deus”. O motivo: “porque se não, como manteremos a congregação de Deus pura?”

Os representantes reformados enfatizaram que essa visão sobre a santidade da congregação não era de acordo com as Escrituras: “a pureza da congregação de Deus não existe somente na excomunhão, mas no sangue e no Espírito de Cristo”. E apontaram para Efésios 5, especialmente os versículos 25 até 27;
“Cristo mesmo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem macula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito”.

Essa referência é importante porque podemos observar a diferença entre a visão subjetiva dos anabatistas sobre a igreja e a sua pureza e a visão reformada que enfatiza a posição fundamental de Cristo na igreja. O sacrifício de Cristo nos lava e purifica; o batismo nos ensina isso. Veja Domingo 27 do catecismo de Heidelberg, pergunta 72: “Somente o sangue de Jesus Cristo e o Espírito santo nos purificam de todos os pecados”.

Os membros são lavados e purificados em Cristo Jesus. E quando um membro se desvia, ele deve ser disciplinado! (quer dizer: discipulado!! Por meio de visitas e conversas ele deve ser instruído, edificado e admoestado para se arrepender e buscar a sua salvação em Cristo Jesus. A disciplina começa com conversas e admoestações, enquanto o processo de excomunhão começa quando fica claro que o membro se endurece e não quer se converter; se chegar a esse ponto de resistência o conselho começará o processo de excomunhão, com os três passos e anúncios, que encontramos no nosso Regimento.

Mateus 18 não fala sobre uma diferença entre o pecado contra os homens e o pecado contra Deus. Os reformados rejeitaram essa idéia em Emden. Jesus não nos ensina qual pecador devemos excomungar, mas nos ensina como devemos admoestar o pecador antes de excomungá-lo.

Tem que ter várias conversas; tem que intensificar as admoestações, tem que deixar claro que não é uma opinião particular contra uma outra opinião particular, mas as testemunhas em Mateus 18 servem para fortalecer o testemunho da palavra de Deus! A palavra de Deus que todos conhecem. Por causa disso a igreja é ativada! Para que seja claro que o pecador está num outro caminho; A igreja deve guardar a palavra de Cristo. (1 Tim. 3, 14-16!);

Naquela reunião foi mencionado também Ezequiel 33: a atalaia deve avisar o pecador do perigo grande e grave; Se não, ele mesmo será culpado! Cristo mesmo avisou os seus discípulos antes da infidelidade deles e orou por eles (Luc. 22,32) e depois os buscou e falou com eles (João 21) antes de restaurar a posição deles e ativá-los na congregação.
Temos um bonito exemplo da longanimidade de Jesus com os seus discípulos, que caíram várias vezes no mesmo pecado.

NB
Primeiro anúncio de Jesus da sua morte na cruz; (Mc. 8,31)
A reação de Pedro: revoltado (Mc. 8,32-33)
Ensino: o discípulo de Jesus deve levar a sua cruz (Mc. 8, 34-38)

Segundo anúncio de Jesus da sua morte na cruz; (Mc. 9,38-41)
A reação dos discípulos: quem era o maior? (Mc. 9,34)
Ensino: a maior no Reino dos céus: o mais humilde! (Mc 9, 35)

Terceiro anúncio de Jesus da sua morte na cruz; (Mc. 10, 32-34)
A reação de Tiago e João: os primeiros lugares! (Mc. 10, 35eov)
Ensino: quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva.

Ensino antes da festa da Páscoa! (João 13)
Jesus quer lavar os pés; A reação de Pedro: não!
Ensino: humildade! Eu, o mestre, vos lavei os pés. Também vós deveis lavar os pés dos outros!

Finalmente Jesus se entregou para ser crucificado.
Reação dos discípulos: vergonha, tropeço, fugir;
Ensino: Humildade. Jesus se humilhou até a morte (Filip. 2,7-8); Humildade!

Então: Jesus ensinou com muita paciência e tratou os seus discípulos com muita longanimidade; Ele os deu um exemplo! Ele os ensinou a ser humildes! Da mesma maneira eles deviam ensinar os membros da congregação e tratá-los com longanimidade! Veja 1 Pedro 5: 1-4; especialmente versículo 3! E os membros devem ser humildes e submissos (1 Pe. 5: 5-6) De fato esse é um dos grandes temas da primeira carta de Pedro: seja humilde e obediente.(1 Pe. 1,14.22; 2,13.18; 3,1.8(!)) e enfatiza também da longanimidade de Deus (3,20; 2 Pe. 3,9).

Essa longanimidade de Deus é um exemplo para nós. Paulo disse isso em Efésios 4, 1-3! E Jesus ensinou isso também aos seus discípulos por meio da parábola do joio no meio do trigo (Mt. 13:36-43);

Faz parte da obra pastoral: cuidar do rebanho e daqueles que são fracos e irregulares. Orientá-los e edificá-los; com paciência e longanimidade como os professores fazem na escola; Só podemos fazer isso se conhecermos as nossas fraquezas; Fazemos isso com humildade, se conhecermos a nossa natureza pecaminosa e se sabemos que a Igreja de Cristo não é perfeita e nunca será perfeita aqui na terra.

Cristo mesmo purificará a sua noiva pelo sacrifício do seu sangue. A igreja é santa aqui na terra, mas isso não quer dizer perfeita! Compare com 1 Coríntios 1, 2: "Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos". Paulo chama a igreja santa (ou santificada), mas ela não é perfeita; existem manchas Cap. 5 e 6, 8-10, 11. A carta nos mostra que tem pecadores e a congregação não faz nada!

Os membros são santos em Cristo, mas isso não quer dizer que somos perfeitos; Oração: dá-nos o pão de cada dia E perdoe-nos os nossos pecados (cada dia!).

Os oficiais são santificados em Cristo, mas também não são perfeitos; Prestem atenção nos apóstolos! Pedro (João 21) e Paulo (Romanos 7, 13-20); Eles queriam ser perfeitos, mas não conseguiam (Filip. 3);

Os oficiais devem ser humildes!
HUMILDES POR CAUSA DOS SEUS PECADOS!
HUMILDES PARA SERVIR CRISTO.

Se escolhermos os oficiais, escolheremos os homens mais perfeitos, ou os homens mais humildes? Escolheremos aqueles homens que conheçam as suas fraquezas e o poder do pecado na sua vida e que conheçam a graça de Deus e o poder do sacrifício de Cristo na sua vida.
Esses homens humildes não se levantam no meio da congregação para julgar e multar, mas eles têm misericórdia com os irmãos e trabalham na congregação para levar os pecadores para Cristo para que sejam salvos;

Homens que se exaltam por causa da sua santidade, por causa da sua disciplina rigorosa, por causa do seu zelo em guardar os mandamentos de Deus; esses homens se tornam zelotes que andam com o chicote da santidade na congregação, e esquecem facilmente que ninguém é puro ou sem manchas; todos nós somos miseráveis pecadores e precisamos do sangue de Jesus.

Não precisamos de presbíteros arrogantes com livrinhos para registrar e multar os pecados, mas presbíteros humildes que lavaram as suas almas no sangue de Jesus Cristo;

Homens humildes que se submetem a Cristo. Homens que conhecem a Palavra de Deus; Homens que oram a Deus e pedem ajuda e orientação; homens que confiem no poder de Deus. Não precisamos de managers que sabem organizar uma empresa; LÍDERES nas empresas tem muitas dificuldades de ser SERVOS na igreja.

Os presbíteros devem se manifestar como exemplos de Cristo (João 13; Filip. 2,3; 1 Pedro 5,3); Eles representam Cristo como servo. Humildade define a atitude com os irmãos que caem em pecado: paciência, misericórdia, vontade para perdoar, vontade para ensinar, paciência com os fracos; sabem perdoar, não uma vez, nem duas vezes, mas 7 vezes 70!
Os que procuram no primeiro lugar a perfeição da congregação, não terão paciência com os fracos; primeiro disciplinar, depois falar. Primeiro atirar, depois falar. Lucas 9, 51-55!

PERGUNTAS PARA AUTO EXAME:

1. Você se acha uma pessoa humilde?
O que a sua esposa acha? o que os seus colegas acham? O que os seus amigos acham?

2. Existem pessoas mais humildes do que você?

3. VOCÊ ESTÁ SERVINDO JESUS?
O que a sua esposa acha? O que os seus colegas acham? O que os seus amigos acham?

4. Como você está servindo Jesus?

5. Você sabe que Jesus é seu SENHOR, mas você sente isso também na sua vida? Jesus manda na sua vida?

Nenhum comentário: