terça-feira, 1 de junho de 2010

EXISTE PERDÃO PARA PADRES OU PASTORES QUE SÃO PEDÓFILOS?


Prezado leitor,

Faz pouco tempo que a população do Brasil foi chocada com as denúncias envolvendo casos de pedofilia entre dois monsenhores e dois padres com coroinhas da cidade de Arapiraca (Al). De fato não foi a primeira vez que isso aconteceu, porque em 2005 houve um outro caso em Anápolis (Góias), quando o Frei Tarcísio Tadeu Sprícigo, foi condenado a dez anos de prisão por abuso sexual contra menores.

O caso em Arapiraca chamou a atenção de toda mídia brasileira, porque foram envolvidos dois padres e dois monsenhores e houve provas incontestáveis, porque os coroinhas apresentaram um filme, que mostrava o envolvimento homo-sexual de um dos monsenhores com um dos coroinhas. As imagens foram chocantes. Além disso, houve o testemunho de um dos padres, que afirmou todas as acusações.

Esse caso de pedofilia não é um problema isolado dentro da Igreja Católica Romana aqui no Brasil. O que chama a atenção é que atualmente existem também alguns casos na Alemanha e Itália; e faz um ano que um padre foi condenado na Inglaterra e alguns anos atrás houve muita comoção nos Estados Unidos onde aconteceram casos similares.

E não devemos pensar que essas coisas só acontecem na Igreja Católica Romana, porque posso lhes dar uma lista de casos que aconteceram em outras igrejas e em outros países. Em Janeiro 2009 um pastor da Assembléia de Deus, em Rubim, foi preso por pedofilia; No mesmo mês um ex-pastor das igrejas reformadas em Holanda foi condenado porque estava colecionando fotografias pornográficas de menores de sete até quatorze anos; em abril 2008 um pastor evangélico foi preso em flagrante em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, quando estava com crianças dentro do carro em um terreno baldio; e em Julho 2007 um músico brasileiro da Igreja Batista da Lagoinha, que tem sua sede em Belo Horizonte, foi preso nos Estados Unidos, suspeito de molestar sexualmente quatro crianças.

Menciono todos esses casos para que as pessoas não pensem que o problema da pedofilia só existe na Igreja Católica Romana. Quem fizer uma pesquisa descobrirá que o problema existe em qualquer país e em qualquer igreja. Talvez possamos dizer: O problema está no coração do homem. Não somente no coração dos padres e dos pastores, mas no coração de qualquer pessoa. Isso fica ainda mais claro se falaríamos sobre outros pecados sexuais, que a bíblia aponta como sodomia e adultério (1 Cor. 6,9).

O grande profeta Jesus abriu os olhos das pessoas para não observar as coisas isoladamente, mas para examinar no primeiro lugar o próprio coração antes de julgar outras pessoas. Ele disse: Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. E quando os moralistas daquela época lhe trouxeram uma mulher adúltera surpreendida em flagrante para que a condenasse, Jesus disse aos acusadores: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra”. Nenhum dos acusadores teve coragem de condenar a mulher, porque todos conheciam bem o seu próprio coração impuro.
Falando sobre isso, não quero diminuir a gravidade do pecado de pedofilia, que é um pecado contra menores, que são facilmente enganados e dominados para fazer coisas contra a sua vontade.
A lei brasileira
A lei brasileira não possui o tipo penal "pedofilia". Entretanto, a pedofilia, como contato sexual entre crianças e adultos, se enquadra juridicamente no crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do Código Penal) com pena de oito a quinze anos de reclusão e considerados crimes hediondos.
Ligado com a pedofilia existe também a divulgação de pornografia infantil. Isso também é crime no Brasil, passível de pena de prisão de dois a seis anos e multa. Artigo 241, do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90): Apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer meio de comunicação, inclusive rede mundial de computadores (
internet), fotografias ou imagens com pornografia ou cenas de sexo explícito envolvendo criança ou adolescente. Em novembro de 2008, a abrangência da lei aumentou, e a pena máxima de crimes de pornografia infantil na Internet aumentou de 6 para 8 anos.
A lei da Igreja Católica
O que chamou a minha atenção assistindo o programa na televisão que mostrou o processo contra os monsenhores e os padres em Arapiraca, foi que um dos monsenhores numa entrevista, feita antes do processo, disse que o pecado da pedofilia é um “pecado mortal”. Provavelmente nem todo mundo conhece essa distinção entre o pecado ‘normal’ e o pecado ‘mortal’. Então quero esclarecer isso. De acordo com a Wikipédia: o pecado mortal é cometido "quando, ao mesmo tempo, há matéria grave, plena consciência e deliberado consentimento. Este pecado destrói a caridade, priva-nos da graça santificante e conduz-nos à morte eterna do Inferno, se dele não nos arrependermos sinceramente”. De acordo com a Igreja Católica Romana existe uma diferença entre o pecado ‘mortal’ e ‘venial’, que é considerado mais leve. O pecado ‘venial’ é feito sem pleno conhecimento ou sem total consentimento e não quebra a aliança com Deus. Eu não pretendo discutir essas distinções, porque no meu ver qualquer pecado é mortal, se dele não nos arrependermos sinceramente.
Então existe perdão?
De acordo com a Igreja Católica existe perdão para as pessoas que cometeram o crime de pedofilia, se a pessoa se arrepende sinceramente. Isso combina com uma palavra de Jesus, que disse (Mc. 3,28): Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que proferirem. Mas por outro lado temos uma palavra séria de Jesus, que devemos analisar antes de tomar uma conclusão. O mesmo Jesus disse também em Mateus 18:6-9 Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitavel que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo! Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. Se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida com um só dos teus olhos do que tendo dois, seres lançado no inferno de fogo.
O Julgamento de Jesus
As palavras de Jesus são bem radicais a respeito daqueles que fazem tropeçar um destes pequeninos que crêem nele. Um pessoa pode se perguntar se Jesus está falando sobre o pecado de pedofilia ou sobre qualquer pecado que deixa tropeçar um dos seus pequeninos. Parece que Jesus fala sobre qualquer pecado, que pode tropecar um destes pequeninos, então isso inclui também o pecado de pedofilia. Prestem atenção que Jesus não fala sobre o carater do pecado, mas sobre o efeito do pecado. Qualquer pecado que deixa um dos seus pequeninos tropeçar é considerado grave. Tão grave que lhe “ fora melhor que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar”. Considero essa palavra de Jesus muito rigida. Porque de fato Jesus está dizendo: é melhor que tal pessoa se jogasse no mar para morrer do que cometer tal crime. Porque quem comete tal crime sofrerá no fogo eterno.
Esse julgamento de Jesus é bem radical, mas no mesmo momento penso nas crianças, pré-adolescentes ou adolescentes que se tornaram vítimas de pedofilia, incesto ou estupro. E especialmente aqueles que foram as vítimas de pastores e padres ou de qualquer oficial da igreja de Cristo. Um representante de Cristo, que devia pastorear o rebanho de Cristo, mas que fez o contrario e causou um trauma na vida da sua vítima (um dos pequeninos, que crêem em mim), que por causa disso se afastou de Jesus. Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar. Porque Jesus disse isso? Por que é melhor ser afogado na profundeza do mar, do que fazer tropeçar um destes pequeninos que crêem em Jesus? Provavelmente, porque é melhor morrer puro na profundeza do mar, do que morrer impuro na profundeza eterna do inferno.
O último Julgamento
Jesus fala sobre o último julgamento em Mateus 25. Não preciso falar sobre todos os detalhes. O que jesus quer dizer é que haverá um julgamento no dia final, quando Jesus voltará sendo o Supremo Juiz que julgará os vivos e os mortos. O que chama a atenção na parábola é que Jesus se identifica com os seus ‘pequeninos ‘ aqui na terra. Quem deu um copo de água à um dos pequeninos de Jesus, o deu a Jesus mesmo. “Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos,a mim o fizeste”, disse Jesus. E quando uma pessoa tratou mal um dos irmãos de Jesus, Jesus considera isso como uma ofensa pessoal. Talvez é forte o que vou dizer agora, mas quem cometeu um crime de pedofilia com um dos pequeninos que crêem em Jesus ouvirá no dia final: sempre que o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste. Apartai-vos de mim, malditos , para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos (Mt. 25,41).
Então não existe perdão?
Não posso dizer isso. Nao podemos negar a palavra de Jesus,que disse (Mc. 3,28): Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfemias que proferirem. Sabemos que Deus perdoou pecados de incesto, assassinatos, mentiras e, mesmo os pecados de Paulo como perseguidor da igreja. Não considero o pecado de pedofilia menos leve em comparação com o pecado de assassinato. Pior ainda se for cometido por um pastor ou um padre: em ambos os casos ele é um tropeço, não somente para a vítima, mas também para todos os fiéis que perderam a sua confiança nos oficiais da igreja e se afastaram dela por causa disso.
Mas observando o caso de Davi, que recebeu perdão dos seus pecados, enquanto foi um homem de Deus, que cometeu adulterio com uma mulher e assassinou o marido dela, devemos dizer que existe perdão. Salmo 51 e salmo 32 são bons exemplos do arrependimento de Davi. E Salmo 32 foi feito para nos ensinar a respeito do caminho que um pecador deve seguir: confessar a Deus as transgressões.
Jogar pedras ou pedir perdão?
Como devemos reagir quando observamos essas coisas acontecerem? A primeira reação é apontar o dedo, condenar os homens que cometeram esse crime e jogar pedras (ou palavras) pesadas para acabar com eles. A tentação é essa, mas a Bíblia nos ensina um outro caminho. O apóstolo João disse: Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte (1 João 5,16); Jesus também nos ensinou a orar: Pai, perdoa-nos as nossas dividas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores. Então quero terminar com uma oração.

Pai, abençoe-nos com ansiedade
ouvindo respostas fáceis, meias verdades
e tendo relações superficiais,
para que o teu amor se aprofunde em nossos corações.

Pai, abençoe-nos com a raiva
observando a injustiça, a opressão e a exploração de crianças.
Para que lutemos em favor da justiça, da liberdade e da paz.

Pai, abençoe as nossas lágrimas derramadas
por aqueles que sofrem profundamente,
por causa da vergonha, da maldade, do repúdio, ou do estupro violento.

Pai, abençoe as nossas mãos para abraçar e consolar
a fim de transformar a dor em alegria.

Pai, abençoe a nossa fé,
pela qual podemos fazer o impossível.
Dê-nos um pouco fé -do tamanho de um grão de mostarda-
para que consigamos lutar contra o monstro da pedofilia,
que é um tropeço para os seus pequeninos.

O Supremo Pastor, procure os teus pequeninos, que foram afastados de ti; cuide das tuas ovelhas e dos seus pastores; não deixa-os cair em tentação, mas livre-os do mal. Amém.

2 comentários:

Elienai B. Batista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Elienai B. Batista disse...

Prezado Pr. Abram,
Obrigado por falar sobre este assunto de maneira bíblica e pastoral.
Gostei muito do artigo principalmente porque ao invés de nos encorajar a lançar pedras, ele nos encoraja a examinar nosso próprio coração.
Que o Senhor continue lhe capacitando para que possamos continuar ouvindo A Voz do Sertão.
Um abraço!