terça-feira, 20 de julho de 2010

Tu também Bruno?


Já faz mais ou menos seis semanas que o goleiro Bruno, então jogador do Flamengo está no foco de toda a atenção. Todos os dias os jornais, as rádios e a televisão dão informações sobre o relacionamento dele com a jovem Eliza Samudio, que está desaparecida desde o início de junho deste ano. Segundo depoimentos ouvidos pela polícia, ela foi sequestrada e está morta. O goleiro Bruno é o principal suspeito de envolvimento no desaparecimento de Eliza.

O que chama a nossa atenção é o fato que diariamente dezenas de pessoas são assassinadas em todo Brasil, e raramente um desses casos chama tanto a atenção da mídia. Mas dessa vez a mídia caiu em cima do caso e desde o início de junho 2010 está observando e opinando todos os detalhes e aspectos desse caso e especialmente o envolvimento do goleiro Bruno. Eu me perguntei: por quê? Por que a mídia brasileira dá tanto valor a esse caso? Perguntei a várias pessoas o que elas acham disso e a grande maioria respondeu: a mídia dá tanta atenção ao caso porque o suspeito é goleiro do Flamengo!

Quer dizer: o clube do Flamengo é muito famoso e chama muito a atenção da mídia. Junto com outros clubes, como Palmeiras e Corinthians, Flamengo é um dos clubes mais fortes no campeonato brasileiro e por causa disso aparece regularmente na televisão. Até mais do que os outros, porque parece que Flamengo é um dos queridos da emissora Globo, considerando que ela transmite quase semanalmente o jogo do Flamengo contra um dos outros clubes.

Então o clube de Bruno é muito famoso. Tão famoso, que a diretoria do clube tomou a decisão de expulsar o goleiro Bruno do time, seja ele culpado ou inocente. Até sendo provado que ele é inocente, ele ficará fora do time por causa do dano que ele causou à marca do clube.

Pois é, os jogadores fazem parte da marca do clube. Um bom jogador chama a atenção da mídia e aumenta a fama do clube. Um jogador ruim difama o nome do clube e por causa disso pode ser expulso. Isso aconteceu com Bruno: ele acabou sendo uma das estrelas do seu clube e agora todo mundo ficou chocado. Como é possível que isso pudesse acontecer? Os jogadores profissionais de qualquer clube são admirados pelos seus torcedores. E servem como bons exemplos para os jovens, que sonham ter a oportunidade de ser um jogador excelente, torna-se famoso e ganhar milhares de reais.

Dá para entender que aqui no Brasil, onde o futebol é uma paixão nacional, um caso como de Bruno recebe muita atenção. Um dos grandes ídolos do povo caiu e é suspeito de ter feito coisas que ninguém podia imaginar. Eu tenho até a forte impressão que a maioria das pessoas se sente traída. Como é possível que um jogador famoso e rico fizesse isso? Os torcedores se sentem traídos, porque tudo o que aconteceu causou dano ao poder do seu clube. E o clube também reagiu assim, porque logo o expulsou, como se fosse traído por ele.

Pensando nisso me lembrei uma história antiga, que aprendi quando estudei Latim.
O nosso professor tinha o costume de sempre no final da aula contar uma história da antiguidade. E uma vez ele contou a história de Julius César, o grande Imperador do Império Romano. Ele era um grande general, que teve poucos amigos e muitos inimigos. Um dos seus amigos era Brutus, um jovem Senador. Julius confiava nele e sempre pediu seus conselhos.

No último dia da sua vida, Julius César andava em Roma e entrou numa rua onde um grupo de Senadores estava esperando por ele. Eles queriam matá-lo e o atacaram, mas o velho general se defendeu como um leão; ele quase conseguiu vencer, mas levou um grande susto antes de morrer, porque viu no meio dos Senadores o seu companheiro que não fez nada para ajudá-lo. O imperador descobriu que Brutus era cúmplice; ele fixou os olhos em seu amigo e as suas últimas palavras foram: “Es tu Brutu?” (quer dizer: “tu também Brutus?”). Essa expressão se tornou famosa e quer expressar o grande desprezo para com um traidor. Sinto isso também na intensa atenção da mídia brasileira sobre esse caso. Parece que querem dizer: TU TAMBÉM BRUNO? E Eliza Samudio? Será que ela pensou a mesma coisa antes de morrer?

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