quinta-feira, 30 de junho de 2011

As diferenças teológicas fundamentais que existem entre a Confissão da fé de Westminster e a Confissão Belga.

Este artigo é uma continuação do artigo anterior “Calvino não era puritano na questão da predestinação”. Comecei aquele artigo com a citação da carta, que recebi de um seguidor do blog Jonathan Silva de Araújo, que leu o meu primeiro artigo e reagiu, dizendo:

“Gostei muito do texto, mas gostaria de saber as diferencias teológicas fundamentais que existem entre os símbolos de Westminster e as três formas de unidade das Igrejas Reformadas; diferenças a respeito da predestinação, das Alianças, a respeito da igreja e a respeito do uso da lei, especialmente o quarto mandamento.
Ficarei grato se o Senhor me responder”.

Em parte já dei uma resposta, especialmente a respeito da predestinação. Mostrei a diferença entre Calvino e Beza neste ponto e conseqüentemente a diferença entre a confissão Belga e a confissão de Westminster.

Essa diferença é só uma das diferenças, pois existem mais diferenças. E sabendo que diferenças teológicas facilmente se tornam motivos para uma divisão eclesiástica, quero mais uma vez enfatizar que considero essas diferenças inter-confessionais; considero essas diferenças como duas linhas de raciocínio dentro das igrejas reformadas, que existem desde a reforma. As igrejas reformadas no Continente respeitaram as igrejas reformadas na Escócia e elas tinham laços fraternais uma com a outra, respeitando as suas diferenças teológicas.

Mas ninguém pode negar que existem diferenças e não devem desprezá-las. Já ouvi puritanos dizer que a teologia reformada se desenvolveu desde o século 16 e a coroa desse processo foi a confissão de Westminster. Essa idéia mostra um desprezo para as confissões de Calvino (a confissão Gaulesa e a confissão Belga) sendo menos puras do que a confissão de Westminster; por outro lado também já ouvi dizer que a confissão de Westminster é um desvio da teologia reformada do século 16. Tal expressão mostra também um desprezo, quer dizer na direção da confissão de Westminster.

Eu considero as duas confissões como frutos de duas linhas teológicas. Posso registrar as diferenças teológicas fundamentais entre a Confissão Belga e a Confissão de Westminster, mas isso não é suficiente. É bom registrar as diferenças, mas é melhor entender essas diferenças! Por que o melhor entendimento leva para um melhor convívio dentro da grande família reformada. Então, o primeiro passo é reconhecer as diferenças, depois analisar e entender essas diferenças e finalmente respeitar as diferenças.

Quando Jonathan Araújo pediu aqui no blog o seguinte: “gostaria de saber as diferencias teológicas fundamentais que existem entre os símbolos de Westminster e as três formas de unidade das Igrejas”. Já ofereci duas listas com os assuntos das confissões, mas alguns irmãos me disseram que isso não ficou muito claro. Então vou repetir as duas listas de tópicos, tanto da confissão Belga, como também da Confissão de Westminster. Prestem atenção que as duas confissões tem muito em comum! Mas também existem certas diferenças.

Abaixo segue uma comparação entre as duas confissões e as partes vermelhas mostram os tópicos específicos de cada confissão, mas também uma diferença em ordem, que nós não podemos negligenciar.

Confissão Belga (1560)

1 - De Deus;

2 - Da Revelação;

3-7 Das Escrituras;

8-11 Da Trindade;

12 Da Criação;

13 Da Providência;

14 Da Queda do Homem;

15 Do Pecado original;

16 Da Predestinação;

17 Do Salvador;

18 Da Encarnação de JC

19 Das 2 naturezas de JC

20 Da Justiça de Deus;

21 Da Satisfação de JC;

22 Da Justificação pela fé;

23 Da nossa Justiça em JC;

24 Da nossa Santificação;

25 Do papel da lei;

26 Do nosso advogado JC;

27-29 Da Igreja;

30 Do governo da Igreja;

31 Dos oficiais da Igreja;

32 Da Disciplina da Igreja;

33 Dos Sacramentos;

34 Da Batismo;

35 Da Santa Ceia;

36 Do papel do Governo Civil;

37 Do Juízo Final

Confissão Westminster (1648)

1 – Da Sagrada Escritura;

2 – De Deus e da Santíssima Trindade;

3 – Do eterno Decreto de Deus;

4 – Da Criação

5 – Da Providência

6 – Da Queda do Homem, do Pecado e de sua Punição;

7 – Do Pacto de Deus com o homem;

8 – De Cristo o Mediador;

9 – Do Livre Arbítrio;

10 – Da Vocação Eficaz;

11 – Da Justificação;

12 – Da Adoção;

13 – Da Santificação;

14 – Da Fé salvífica;

15 – Do Arrependimento para a vida;

16 – Das Boas Obras;

17 – Da Perseverança dos Santos;

18 – Da Certeza da Graça e da Salvação;

19 – Da Lei de Deus

20 – Da Liberdade Cristã e da Liberdade de Consciência;

21 – Do Culto religioso e do Dia de Repouso;

22 – Dos Juramentos legais e dos Votos;

23 – Do Magistrado Civil

24 – Do Matrimônio e do Divórcios;

25 – Da Igreja

26 – Da Comunhão dos Santos;

27 – Dos Sacramentos;

28 – Do Batismo;

29 – Da Ceia do Senhor;

30 – Das Censuras Eclesiásticas;

31 – Dos Sínodos e Concílios;

32 – Da Ressurreição

Como já disse: existe uma grande concordância, mas alguns pontos se destacam. Não posso analisar essas diferenças, porque este blog não oferece muito espaço para isso, então me limito neste momento a registrar as diferenças e por causa disso eu tocarei alguns tópicos e darei um breve comentário. Se Deus quiser posso usar um outro artigo para focalizar mais e para analisar e esclarecer os assuntos específicos.

1. 1. Prestem atenção na ordem dos tópicos de ambas as confissões. A Confissão Belga é mais Infra-Lapsariano e a Confissão de Westminster mais Supra-Lapsariano; Eu peço desculpas pelo uso dessas palavras estranhas, mas essas palavras – que vem do Latim - são comuns na teologia reformada e servem para distinguir duas linhas de pensamento dentro da teologia reformada. Trata-se sobre a questão da relação entre o decreto divino da predestinação e a queda do homem. O decreto de Deus da predestinação antecipa a da queda (supra-lapsus) ou a queda do homem antecipa a da predestinação (infra-lapsus); Não é uma questão de ordem cronológica (pois não existe uma cronologia de decretos ou um desenvolvimento teológico dentro do conselho de Deus), mas uma questão da lógica. Os teólogos infralapsarianos (Calvino, Bavinck) se deixam guiar pela revelação do livro de Gênesis, que fala duma maneira ‘infra’. Enquanto os teólogos ‘supralapsarianos’ (Beza, Perkins, Gomarus) dizem que o eterno decreto de Deus para eleger certas pessoas e para rejeitar outras antecipa e domina toda criação, incluindo a queda do homem. A predestinação domina tudo. Também toda a teologia dos supralapsarianistas.

A A ‘luz da natureza’: O papel da luz da natureza é mais forte na Confissão de Westminster. Vejo uma grande diferença com o Catecismo de Heidelberg (pergunta/resposta 8). Neste momento me pergunto: Esta diferença tem a ver com o progresso científico naquela época? Como funcionava a luz da natureza na vida do crente?

O O resultado das discussões sobre a predestinação feitas no Sínodo de Dort se refletem na Confissão de Westminster nos artigos 9, 10 e 18 que falam sobre o Livre-Arbítrio, sobre a Vocação Eficaz e sobre a Certeza da Graça e da Salvação; Aqui se manifesta uma concordância entre a confissão de Westminster e uma das três formas de Unidade das Igrejas Reformadas!

A Confissão de Westminster tem um artigo especial sobre o Pacto de Deus com o homem; Art. 7 (e também art. 19) falam sobre o Pacto das Obras;

5. Um outro ponto especifico da Confissão de Westminster é a atenção que ela dá ao Pacto da Graça (7,3); Um ponto de discussão na teologia reformada é a questão se a aliança da graça foi feito só com os eleitos? (Compare com o Grande Catecismo de Westminster, resposta 31); E se for assim qual é a posição das crianças na aliança da Graça? Elas devem ser batizadas na suposição que são regeneradas? (Assim Abraham Kuyper, teólogo reformado de Holanda; ele era supralapsariano)

A Confissão de Westminster fala também detalhadamente sobre o papel da Lei de Deus e ligado com isso, ela fala explicitamente sobre a Liberdade Cristã e sobre a Liberdade de Consciência; sobre o Culto Religioso e o Dia de Repouso (4° mandamento); sobre os Juramentos Legais e dos Votos (3° mandamento; sobre o Magistrado Civil (5° mandamento) e sobre o Matrimônio e o Divórcio (7° mandamento); a Confissão Belga é muito mais modesta e o Catecismo de Heidelberg também.

O O art. 24 da Confissão de Westminster fala sobre o Casamento e sobre as exigências. Este tópico falta na Confissão Belga. A Confissão de Westminster é mais rigorosa no ponto do Dia de Repouso e do Culto religioso (art. 21). A Confissão Belga não fala sobre isso, as o Catecismo de Heidelberg sim. Prefiro a posição do Catecismo de Heidelberg, que é menos rigoroso e mais cuidadoso.

A Confissão de Westminster fala também sobre a Igreja, mas não faz uma distinção simples entre igrejas verdadeiras e igrejas falsas, mas uma distinção entre igrejas, que são mais puras ou menos puras. Como avaliar essa diferença entre as duas confissões? A confissão Belga parece mais rigorosa e mais clara, enquanto a Confissão de Westminster mostra também um acento bíblico: Até as igrejas mais puras tem manchas. A igreja perfeita não existe aqui na terra.

A Confissão de Westminster fala sobre a igreja invisível; A Confissão Belga não fala assim e sei que no passado houve várias discussões sobre isso nas igrejas reformadas na Holanda; Por que a confissão de Westminster fala assim? Observando a pluralidade dos protestantes? Para evitar conflitos entre os grupos protestantes (Anglicanos, Independentes, Congregationalistas, Presbiterianos)?

O O artigo 31 da Confissão de Westminster defende o sistema presbiteriano falando sobre o Governo da Igreja; O Sínodo tem autoridade sobre as igrejas locais; As igrejas reformadas não confessam isso. Como avaliar essa diferença?

O O artigo 23 da Confissão de Westminster fala sobre o papel do Magistrado e define que o Magistrado tem autoridade sobre as igrejas para guardar as marcas da verdadeira igreja de Deus; A confissão Belga tem uma parte igual, mas as igrejas Reformadas na Holanda tiraram esta parte em 1905, porque não acharam de acordo com as Sagradas Escrituras!

Mais uma vez quero enfatizar que considero essas diferenças como diferenças inter-confessionais. Repito o que escrevi no final do meu artigo anterior.

As Três Formas de Unidade (Confissão Belga (1561), Catecismo de Heidelberg (1563), e os Canones de Dort (1618/19)) a um lado e a Confissão de Westminster (1649) e os seus Catecismos ao outro lado, são confissões da grande Reforma. Cada uma tem a sua história e o seu conteúdo. A doutrina dessas confissões tem muitas coisas em comum, mas existem também diferenças. Devemos respeitar essas diferenças. Quem acha que a Confissão de Westminster é o final de um processo confessional: o príncipe entre pares no meio das confissões reformadas, ele facilmente despreza as Três Formas de Unidade. E quem acha que a Confissão de Westminster é um desvio da doutrina reformada inicial que se encontra nas Três Formas de Unidade, ele também tem que tomar cuidado a não desprezar a Confissão de Westminster e os seus Catecismos.

A história nos mostra que as duas confissões funcionam em confederações separadas: igrejas reformadas e presbiterianas. A história nos mostra também que haverá conflitos se quer misturar as duas confissões em uma só confederação. Presbiterianos e Reformados devem respeitar um ao outro, a sua história e as suas confissões.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Creio no Espírito Santo...


Encontrei um artigo em que o repórter Eduardo Junqueira escreveu na revista Veja em Dezembro de 1998, com o título “Possuídos pelo fogo de Deus”. Naquele tempo o Padre Marcelo Rossi chamou a atenção do povo brasileiro com as suas manifestações ‘pentecostais’. O repórter fez uma reportagem e apontou diversos movimentos históricos que estavam ligados um ao outro pelo fator unificador, que é o culto ao Espírito Santo. Ele apontou vários momentos na história da igreja de Montano ao padre Marcelo Rossi.

Montano era um cristão da Frigia no século II, que alegava ter recebido uma revelação direta do Espírito Santo de que ele, como representante do Espírito, lideraria a Igreja durante o último período dela aqui na terra. Ele teve duas mulheres como ajudantes, que eram consideradas profetisas. Montano procurava a renovação na igreja com mesmo entusiasmo, dons, poder e sinais que marcavam a época dos apóstolos. Devido aos inúmeros abusos e extremos ocorridos neste movimento, a Igreja o condenou como herético já no século II.

Muitos outros movimentos similares apareceram posteriormente na igreja. Todos com as mesmas características. Todos cultuando primordialmente o Espírito Santo. Muitas igrejas se focalizaram no poder do Espírito Santo. Agora, quando eu digo: “Creio no Espírito Santo!”, estou consciente que essa confissão faz parte do Credo Apostólico. Antes de dizer: Creio no Espírito Santo, já aprendi dizer: Creio em Deus Pai; e Creio em Jesus Cristo, o único Filho de Deus. Nós não podemos isolar o Espírito Santo de Deus Pai e do Filho.

O Credo Niceno enfatiza isso e diz: Cremos no Espírito Santo, Senhor e Vivifica-dor, que procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; O Concilio de Niceno deixa bem claro que não podemos falar isoladamente sobre o Espírito Santo, mas sempre em comunhão com o Pai e o Filho. E pelo mesmo motivo o nosso Catecismo pergunta: O que você crê sobre o Espírito Santo? Resposta: creio que ele é verdadeiro e eterno Deus com o Pai e o Filho.

Creio no Espírito Santo: Ele é verdadeiro Deus, junto com o Pai e o Filho;

Então, quando queremos falar sobre o Espírito Santo e sobre os dons do Espírito, nós não podemos isolar essas manifestações, sem considerar o objetivo dessas manifestações. Quem faz isso, ele age como a multidão que seguia Jesus. Ela seguia Jesus por causa dos sinais e dos milagres, mas ela não estava interessada em Jesus. Assim é aquele que somente está interessado em ver as manifestações do Espírito Santo, mas não se submete a Cristo Jesus e não dá gloria a Deus.

O Espírito Santo é o Espírito de Cristo. O Espírito Santo aponta para Cristo. O culto onde o Espírito Santo está presente, o Cristo Jesus estará no centro. O Espírito Santo não organizará um culto em torno de sua própria pessoa; onde ele será o centro do culto e da adoração. A Bíblia mostra isso em vários lugares, mas especialmente em 1 Coríntios 12. (Aconselho que leia este capítulo antes de continuar)

Prestem atenção que o capítulo 12 está ligado com os capítulos 13 e 14! Os capítulos 12 a 14 foram escritos por Paulo para responder a perguntas feitas pelos coríntios sobre a atividade dos “espirituais” nos cultos. Essas perguntas estavam ligadas com questões acerca dos dons espirituais em geral e, particularmente, sobre o papel do falar em línguas e o profetizar.

A resposta de Paulo começa em capítulo 12 e termina em capítulo 15. Em capítulo 12 Paulo fala positivamente sobre a diversidade dos dons espirituais e ele avisa que essa diversidade não pode levar a uma rivalidade dentro da congregação. Todos os dons servem a edificação do corpo de Cristo. O capítulo 13 enfatiza isso, porque ali Paulo fala sobre o dom supremo do Espírito Santo: sendo o amor. Os dons devem ser usados com amor; e assim edificarão a congregação. Por causa disso ele considerou o dom da profecia melhor do que o falar em outras línguas.

Lendo a carta recebemos a impressão que vários coríntios tinham uma grande preferência para o falar em línguas. Eles receberam uma resposta clara nesta carta. E esta resposta já começa aqui no capítulo 12. O dom de falar em línguas não é o único dom do Espírito Santo. Existem muitos dons, mas todos os dons vêm do mesmo Espírito.

Vamos agora observar os primeiros versículos de capítulo 12. Paulo disse: A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Sabeis que, outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis guiados. Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus, se não pelo Espírito Santo.

Paulo faz um contraste entre o passado e o presente. Entre o culto aos ídolos mudos e o culto ao Deus vivo, que se caracteriza pelo fato que Deus fala ao seu povo. Todos os dons servem a comunicação de Deus com o seu povo. O culto é um encontro entre Deus e o seu povo. Um culto é guiado pelo Espírito Santo, que enche o coração dos crentes para cantar, orar, pregar e para louvar o nome do Senhor.

Eu já disse que o culto nunca se focaliza em redor do Espírito Santo. O culto não serve para adorar o Espírito Santo. Mas o Espírito Santo serve a Cristo. O Espírito Santo foi dado à Igreja de Cristo para que ela sirva a Cristo Jesus; para que ela confessa Jesus como Senhor e para que ela siga Jesus, que é único caminho para o Pai. O próprio Jesus nos ensinou isso em João 16, 13-15. Ali Jesus disse a respeito do Espírito Santo: Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de ver. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.

O Espírito de Deus me glorificará, disse Jesus. Ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, quer dizer: da boca de Cristo Jesus. O Espírito Santo é o Espírito de Cristo e serve a Cristo para chamar as pessoas para Cristo. O Espírito usa apóstolos, profetas, mestres, missionários e pastores para chamar as pessoas para arrependimento e para buscar a sua salvação em Cristo Jesus. Ele os proclama o evangelho e os enche com alegria para que louvem o nome do Senhor. Nós chamamos isso a obra da regeneração. O Espírito Santo renova as pessoas em Cristo Jesus e lhes deu conhecimento e fé para que confessem Jesus como Senhor. Este dom é um dom geral. Todos os crentes recebem este dom.

Mas existem também dons especiais. Paulo fala sobre estes dons nos versículos 4 a 11 do capítulo 12. E logo Paulo deixa claro em versículo 4 que o Espírito Santo não pode ser isolado do Pai e do Filho. Paulo diz: Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. Paulo enfatiza que a diversidade dos dons procede de uma fonte única: o Deus triúno.

Paulo não fala sobre três classes diferentes de dons espirituais. Ele está simplesmente usando termos complementares para se referir à manifestação do Espírito Santo na congregação. Os dons podem ser chamados “dons”, “serviços”, realizações” e “manifestações” em relação, respectivamente, ao Espírito, ao Senhor Jesus, a Deus Pai e à Igreja. Ou seja, os dons são dados gratuitamente pelo Espírito, servem ao Filho, são operados eficazmente pelo poder de Deus e são o meio pelo qual o Espírito manifesta sua graça e poder na igreja. Então,mais uma vez podemos ver que nós não podemos isolar a obra do Espírito Santo na igreja da obra salvadora de Cristo. Os dons servem a Cristo. Tudo no culto deve ser Cristo-centrico, porque Cristo é o único caminho para o Pai.

Creio no Espírito Santo: Ele é todo-poderoso;

Paulo enfatiza no capítulo 12 que existem diversos dons. Esta palavra “diversidade” só aparece três vezes no Novo Testamento: exatamente aqui nesses versículos. Ele repete isso três vezes e isso indica que ele quer enfatizar a diversidade dos dons. Não existe só um dom: quer dizer o falar em línguas, que alguns consideravam como dom supremo, mas existem vários dons. Existe uma grande diversidade.

E esta diversidade manifesta a grande criatividade e riqueza do poder de Deus. O Espírito de Deus é todo poderoso. Ele é o Espírito de Deus, que criou a diversidade na natureza; a diversidade entre a raça humana; a diversidade de pessoas, raças, línguas, capacidades etc.

Prestem atenção, irmãos, que existem quatro listas de dons no Novo Testamento. Tem uma aqui em 1 Cor. 12, 8-10; outra em 1 Cor. 12, 28-30; mais uma em Rom. 12, 6-8 e a última em 1 Pedro 4, 10-11; Essas quatro listas são diferentes umas das outras; uma menciona certos dons,outra, dons diferentes; nenhuma delas pretendia ser completa ou exaustiva. Mas cada uma está ligada com a situação local da igreja onde se manifestam. Quer dizer: os dons são dados de acordo com a vontade de Deus e a necessidade da igreja local! A igreja que precisa certos dons receberá de acordo com a vontade de Deus e o poder do Espírito Santo.

Neste caso, aqui em 1 Cor. 12: 8-10, Paulo fala sobre os seguintes dons: a) Sabedoria, conhecimento e a fé; b) Dons de curar e operações de milagres; c) Profecias e discernimento de espíritos; d) Variedade de línguas e a capacidade de interpretá-las;

Qual é o objetivo desses dons? Por que a igreja em Coríntios recebeu esses dons? Ela recebeu esses dons porque eram melhores crentes? A igreja de Corinto era melhor do que a igreja em Éfeso? Os coríntios eram mais religiosos? Quando nós comparamos a carta aos coríntios com as outras cartas recebemos a impressão que a situação era ao contrario. A congregação em Corinto era uma das piores. Houve muitos problemas e conflitos ali.

Então qual foi o motivo de receber estes dons? Antes de tudo quero fazer uma observação geral: A direção dos dons sempre é: servir a comunidade de acordo com a necessidade; Então, qual era a necessidade da congregação dos Coríntios? O problema dos Coríntios era a falta da Palavra de Deus. Houve muito estultícia e ignorância na congregação de Corinto. Houve uma falta de fé e de conhecimento; eles precisavam de palavras proféticas, que os ensinavam o caminho do Senhor; não houve e por causa disso havia pessoas que viviam em pecado, enquanto o resto da congregação não dizia nada e se acostumou ao pecado. Por causa disso houve conflitos. Os Coríntios precisavam ouvir a Palavra de Deus. Todos os dons estavam ligados com isso.

Os dons e os milagres sempre se manifestam nos momentos em que as trevas dominam. Os profetas Elias e Eliseu podiam fazer muitos milagres, porque viviam num tempo no qual houve poucos crentes; Jesus fez muitos milagres para chamar a atenção dos incrédulos; Ele vivia também numa época em que as trevas dominavam a terra. Onde as trevas dominam os milagres apareçam; os dons de sabedoria, conhecimento, fé, profecia e discernimento de espíritos servem para levar as pessoas para Cristo. As curas e os milagres sustentam e apóiam a comunicação do Espírito Santo. Eles chamam a atenção dos incrédulos para que prestem atenção a mensagem do pregador.

Então, os dons foram dados de acordo com a necessidade na congregação: Sabedoria onde existe muito estultícia; Conhecimento, onde existe muita ignorância; , onde não existia muita confiança em Deus; Dons de curar, onde houve muitos doentes; Operação de milagres, para chamar atenção dos incrédulos para a palavra de Deus; Profecia, para revelar a vontade de Deus; Discernimento de espíritos, porque houve muitos falsos profetas; Variedade de línguas, porque a igreja de Corinto era uma comunidade com grande diversidade de pessoas.

Então existia uma diversidade de dons, diz Paulo. Mas esta diversidade não pode levar para uma pluralidade; não pode levar para a criação de grupos ou de individualismo. Isso não existe, porque Deus realiza tudo isso por meio do seu Espírito Santo; Deus estava trabalhando na congregação dos Coríntios. O poder de Deus se manifestou para chamar a atenção e para apoiar a pregação da Palavra;

Isso explica também porque os dons não se manifestaram em todo lugar e em todo tempo. Podemos dizer que Jesus Cristo deu estes dons mediante o Espírito Santo aos apóstolos e profetas durante um momento especial da história da igreja. O que havia em especial neste período é que não havia uma Bíblia completa. Nós temos o privilégio de segurar em nossas mãos uma Bíblia com 66 livros sagrados, mas na igreja primitiva tudo que se tinha era o Antigo Testamento e nem sempre completo! Os apóstolos e profetas pregavam o Evangelho de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Eles fizeram milagres e curas que chamaram a atenção das pessoas. Dessa maneira o Espírito de Deus apoiava a pregação dos apóstolos com seu poder.

Mas esses dons cessaram com o passar dos apóstolos; com o completar das Escrituras; O fundamento da igreja é o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular. A igreja é edificada em cima desse fundamento. Outro fundamento não existe. Então, muitas pessoas que dizem que as profecias continuam ainda hoje, estão negando a suficiência das sagradas escrituras.

Quem aceita as profecias particulares de fulano e beltrano, deve aceitar também as profecias da profetisa Ellen White da Igreja Adventista, ou do Joseph Smith fundador do Mormonismo. Mas nós não acreditamos nas palavras deles. Nós confessamos a suficiência das Escrituras e acreditamos que os 66 livros sagrados são a regra da nossa fé.

A Palavra de Deus que recebemos nestes livros é a regra da nossa fé. E essa palavra nos revela o plano de Deus da nossa salvação; Ela nos ajuda também para discernir os espíritos e rejeitar os falsos profetas; Isso não quer dizer que Deus não pode agir de uma forma natural hoje em dia. Claro que ele pode fazer isso. Ele é todo poderoso. O problema é que a necessidade antiga não existe mais. Temos a palavra de Deus, que é uma lâmpada para os nossos pés.

E tem outro problema. Existe o problema dos espíritos mentirosos e enganadores, bem como homens maus e charlatães, que querem enganar as pessoas. Existe Satanás que pode se disfarçar e parecer até um anjo da luz, fazendo sinais e milagres. Já que Satanás, como imitador de Deus, pode chegar a confundir os próprios eleitos, qual o critério seguro para distinguirmos o que vem dele e o que vem do Espírito Santo? Devemos ter muito cuidado com a manifestação dos milagres hoje em dia e segurar a palavra de Deus para discernir os espíritos e rejeitar os falsos profetas.

Creio no Espírito Santo: Ele é soberano

Finalmente, irmãos, quero chamar a sua atenção para um detalhe que facilmente esquecemos hoje em dia. Quando nós observamos outras igrejas, podemos ouvir histórias sobre o batismo do Espírito Santo e sobre curas e milagres. Faz pouco tempo que ouvi um pastor de Maceió dizer que o Espírito de Deus estava na sua congregação. Houve um batismo do Espírito Santo, várias pessoas foram curadas, incluindo a sua própria esposa e ele chamou as pessoas para vir para sua igreja. Não sei se o nome da sua igreja foi Bethesda, mas o pastor disse ‘como o anjo do Senhor tocou as águas em Bethesda, ele também tocou as águas naquela igreja’.

Ouvindo essa história, fiquei pensativo. Não estava lá para verificar a história, então não posso dizer nada sobre isso. Mas o que me incomodou foi a maneira como ele falou sobre essas manifestações, como se fossem tudo. As manifestações são as mais importantes. Eles não servem para levar as pessoas a Cristo, mas elas mesmas são as mais importantes. As pessoas foram chamadas a vir para ver essas manifestações, mas não para servir a Cristo.

As pessoas fazem tudo para receber esses dons. Jejum oração etc. Li uma história de uma rapaz que tinha ido a uma reunião de oração e lá tinham ensinado como ele podia falar em línguas. Colocaram a mão sobre a sua cabeça e mandaram que ele começasse a formar uma palavra desconhecida e que afrouxasse a língua e dissesse aquela palavra, várias vezes, repetindo-a. Ele começou a falar aquela palavra muitas vezes, repetidamente e então disseram: “Aleluja! Está falando em línguas!”. O rapaz manifestou isso em frente de um pastor, dizendo que podia falar em línguas.

Dessa maneira existem igrejas que enganam as pessoas a respeito dos dons do Espírito Santo. Quero que vocês aprendam, irmãos, que os dons do espírito Santo são dons. Isso quer dizer: eles são dados pelo Espírito Santo. Uma pessoa não pode manipular o Espírito Santo. O Espírito Santo é soberano e ele decide em sua liberdade quem vai receber os dons e quem não vai receber os dons. Como já disse: os dons são dados de acordo com a vontade de Deus e de acordo com a necessidade da congregação.

Paulo enfatiza isso várias vezes neste capítulo. O mesmo Espírito realiza todas estas coisas; Ele distribui os dons, como lhe apraz; Ele dá a cada um, individualmente; Os dons especiais são individuais; Não podemos generalizá-los como as igrejas pentecostais fazem e dizer que todos devem ter este dom; existem pastores pentecostais que dizem: “Se não tiver o dom de falar em línguas, você não é um verdadeiro crente. Por exemplo: Quem não fala em línguas, não é batizado com o Espírito Santo. Ele pode ter fé, amor e manifestar os frutos do Espírito Santo. Tudo isso, mas não é batizado com Espírito Santo.

Agora, eu pergunto: Será que todos que foram batizados com o Espírito Santo falaram em línguas? Os três mil que foram batizados no primeiro dia de Pentecostes não falaram em línguas, mas estavam cheios do Espírito Santo!

Então, é uma mentira dizer que todos os crentes devem falar em línguas. Ainda mais quando as pessoas pensam que podem manipular o Espírito de Deus para lhes dar os seus dons. O Espírito dará a quem quiser, e quando quiser.

Paulo chama os dons “Charismatas”. Isso quer dizer: os dons que foram dados de graça: ninguém merece; Uma pessoa recebe de graça, sem querer, graças ao Espírito Santo. O Espírito dará a quem quiser, e quando quiser, dependente da vontade de Deus e da necessidade da congregação;

Deus deu apóstolos à igreja do primeiro século; Deus deu um monte de dons à igreja de Coríntio de acordo com a sua necessidade. Ele deu uma grande diversidade de dons, mas não a todos. Paulo termina assim: ele disse: Porventura, são todos apóstolos? Ou todos profetas? São todos mestres? Ou, operadores de milagres? Tem todos dons de curas? Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todas? Paulo disse isso num contexto em que os espirituais se levantaram e se glorificaram por causa dos seus dons e os outros membros se perguntavam qual era o papel deles na congregação. Paulo quer edificar e consolar. O espírito de Deus é soberano e dá a quem quiser. E quem recebe deve receber em humildade para servir os outros no corpo de Cristo. Quem não recebe para servir, não presta; quem recebe para ser servido, também não presta. Os dons servem a Cristo e a igreja de Cristo.

Para enfatizar isso, Paulo termina, dizendo: Entretanto, procurai, com zelo,os melhores dons. E ele continua: E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente. Este caminho e o caminho do amor, o dom supremo do espírito Santo. Melhor do que o falar em línguas. Porque Paulo diz: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa. Ainda que tenho o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência;ainda que tenho tamanha fé, a ponto de transportar montes,se não tiver amor, nada serei!